Mindfulness desenvolve o autoconhecimento

Em nossos treinamentos é comum os alunos perguntarem como a prática de mindfulness leva ao autoconhecimento. Para responder essa questão

Alexandre Lunardelli

(26/10/2016)

Em nossos treinamentos é comum os alunos perguntarem como a prática de mindfulness leva ao autoconhecimento. Para responder essa questão, gosto de começar com uma pequena história envolvendo dois dos maiores especialistas do assunto.

Daniel Siegel¹ conta que pediu para os neurocientistas mais conceituados do mundo darem uma definição da mente e constatou que simplesmente não existe uma boa definição.

Ele conta também que, numa reunião com seus colegas, iniciou a conversa com a pergunta: “Quem é capaz de explicar exatamente como a mente funciona?” E a resposta veio rápida por parte de Richard Davidson²: “Nenhum de nós!” O grupo todo deu risada e começou a reunião.

Apesar de todo conhecimento que a neurociência já tem do cérebro e do sistema nervoso, os principais neurocientistas do mundo concordam que ainda não sabemos exatamente como a mente funciona e nem temos uma boa definição para ela.

Mindfulness como auto-observação

O que sabemos é que nós somos mais abrangentes que os pensamentos e as emoções, podemos estar conscientes dos pensamentos e emoções. Com a prática da atenção plena, podemos desenvolver uma visão da mente, podemos nos familiarizar com ela.

Quando escolhemos prestar atenção nos nossos pensamentos, emoções e sensações, escolhemos praticar a forma mais avançada de autoconhecimento. Desenvolvemos a capacidade de observar a nossa mente em funcionamento sem nos identificarmos com os pensamentos. É a postura da testemunha fiel, que percebe os pensamentos e emoções como eventos mentais.

Para promover essa investigação, além da intenção, precisamos desenvolver a atitude correta: Sabendo que é da natureza da mente produzir todo tipo de pensamento, não precisamos ficar nos punindo pela qualidade deles. Imagine uma máquina que, colocada na nossa cabeça, fosse capaz de ler nossos pensamentos e anunciá-los em voz alta. O que iria acontecer? Iríamos morrer de vergonha. Todos nós somos “presenteados” com pensamentos de todos os tipos, positivos, negativos, saudáveis, esdrúxulos e etc.

Não temos controle sobre a qualidade dos pensamentos que surgem, mas temos controle sobre o que vem depois. Ou seja, podemos responder não nos identificando com eles e escolhendo para quais vamos dar atenção e quais vamos deixar ir embora.

Mindfulness como autoinvestigação

Ao longo do tempo, inconscientemente desenvolvemos padrões de pensamentos que acabam determinando nossas ações. Existem muitos nomes diferentes para esses padrões: condicionamentos inconscientes, crenças limitantes, formações mentais, impurezas e etc. O que podemos fazer através da prática da atenção plena, é trazer esses padrões de pensamentos para a nossa consciência, simplesmente observando-os no momento que eles surgem. Sim é possível! Com a prática regular, atingimos um estado mental de quietude e clareza, que possibilita nos tornarmos conscientes desses condicionamentos. Sob a nossa atenção penetrante, serena e bondosa, muitas dessas formações simplesmente se dissipam. Nós nos libertamos delas. Isto é um processo contínuo com idas e vindas, mas a tendência é positiva no sentido de nos familiarizarmos com nossos condicionamentos e não permitir que eles ditem o nosso comportamento.

O principal ganho com o autoconhecimento é a criação de hábitos mentais saudáveis e a nossa libertação dos padrões negativos de comportamento.

(1) Daniel Siegel é médico formado pela Universidade de Harvard, é atualmente professor de psiquiatria na Escola de Medicina da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) onde é também diretor cofundador do Centro de Pesquisa da Atenção Plena (Mindful Awareness Research Center).

(2) Richard Davidson, professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Wisconsin-Madison nos Estados Unidos, fundador do Centro para Mentes Saudáveis (Center for Healthy Minds), é Ph.D. em psicologia pela Universidade de Harvard e um dos maiores pesquisadores dedicados à neurociência e à mindfulness.

Alexandre Lunardelli é sócio fundador da Academia de Mindfulness e do app Ácora. Desde 2012 conduz programas de treinamento para empresários, executivos, profissionais liberais, professores, artistas e estudantes. Instrutor sênior certificado pela Mindfulness Trainings International (MTI), engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP, com especialização em administração de empresas na FGV e MBA pela The Wharton School da Universidade da Pensilvânia.

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