“Qualquer um pode ficar bravo – isso é fácil. Mas ficar bravo com a pessoa certa, no grau correto, no momento oportuno, com o propósito correto e da maneira adequada – isso não é fácil.” – O desafio de Aristóteles em seu livro Ética a Nicômaco (conforme citado por Daniel Goleman em seu livro Emotional Intelligence).
Da mesma maneira que a prática de mindfulness treina nossa atenção para estarmos cientes de nossos pensamentos, momento a momento, também pode nos ajudar a treinar nossa atenção para estarmos cientes de nossas emoções. Perceber e “enxergar” a emoção no instante em que surge, é o primeiro passo para lidarmos saudavelmente com as emoções, independentemente da natureza delas. Não temos controle sobre a natureza das emoções que surgem, mas podemos treinar para ter controle sobre o que vem depois, ou seja, como reagimos.
Toda emoção tem uma contrapartida fisiológica, ou seja, ela se manifesta no corpo e por esta razão a consciência corporal é uma grande aliada no desenvolvimento do equilíbrio emocional. É mais fácil percebermos o aparecimento de uma emoção através de sua manifestação física. E quando aprendemos a percebê-las fisicamente, ganhamos aquele intervalo de tempo, um segundo ou um décimo de segundo, necessário para não reagirmos automaticamente e impulsivamente e sim respondermos com escolha e com consciência.
Prática de mindfulness desenvolve grau de presença e atenção
Não se trata de reprimir a emoção, pois aquilo ao que resistimos tende a persistir. Não se trata tampouco de se deixar arrastar pela emoção, agindo inconscientemente. Com a prática de mindfulness queremos desenvolver um grau de presença e atenção que nos permita perceber a chegada da emoção e deixar que ela seja processada fisicamente no nosso corpo “sem atritos”. Estamos falando do processamento ótimo das emoções.
Podemos fazer uma comparação com um lago límpido e completamente calmo, sem ondulações. Se nesse lago jogarmos uma pedrinha, ela causará o aparecimento de pequenas ondas e, em pouco tempo, o lago retomará seu estado natural. Da mesma maneira, mindfulness nos ajuda a processar uma emoção e voltar ao nosso estado natural de calma, claridade e estabilidade, sem reprimir e sem sermos arrastados pela emoção.
Inteligência emocional é uma habilidade treinável
Peter Salovey e John Mayer, considerados os pais do conceito de inteligência emocional, a definem como “a habilidade de monitorar os nossos (e dos outros) sentimentos e emoções e discernir entre eles, usando essa informação para guiar nossos pensamentos e ações”¹.
A habilidade de monitorar nossas emoções é treinável e passa pelo treinamento da atenção para a obtenção de uma mente calma e clara. O melhor local para percebermos as nossas emoções no momento que elas surgem é o corpo. É por isso que recomendamos os exercícios de mindfulness para o treinamento da atenção e expansão da consciência corporal. Nós temos escolha! Podemos aprender a gerenciar as emoções a nosso favor, lidando com as emoções difíceis e cultivando as emoções positivas. A inteligência emocional é fundamental para nossa saúde, nosso bem-estar, melhores relacionamentos e sucesso profissional e a ciência comprova que ela pode ser desenvolvida através da prática de mindfulness².
(1) Peter Salovey and John D. Mayer, Emotional Intelligence, Imagination, Cognition, and Personality 9, número 3 (1990): 185-211.
(2) The Benefits of Being Present: Mindfulness and Its Role in Psychological Well-Being – Kirk Warren Brown and Richard M. Ryan – University of Rochester.